“Envelhecer como LGBTQ+ em Portugal” é um guia essencial para profissionais de saúde e pessoas cuidadoras

Foi lançado o guia Envelhecer como LGBTQ+ em Portugal, desenvolvido pelo projeto REMEMBER do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Este documento pioneiro destina-se a profissionais de saúde e pessoas cuidadoras, oferecendo informações práticas e reflexões essenciais sobre os desafios enfrentados pela população LGBTQ+ idosa em Portugal.

Na sociedade portuguesa, tanto nas instituições como no discurso público, predomina a ideia de que as pessoas idosas são todas heterossexuais. Na realidade, estima-se que pelo menos 230.000 pessoas LGBTQ+ em Portugal têm mais de 60 anos. Estas pessoas cresceram num contexto de forte estigmatização, marcado pela ilegalidade da homossexualidade até 1982 e pela associação desta a doenças nas décadas de 1980 e 1990. Este historial de discriminação resultou em traumas acumulados que afetam a saúde mental, como ansiedade, depressão e isolamento social.

Eu fiz a primeira consulta e a médica já me disse: ‘A partir de agora eu vou tratá-la por Jéssica, portanto vou riscar aqui as notas que tenho’, e eu desatei a chorar.
– Jéssica, mulher trans, pansexual, 60-64 anos

Muitas das pessoas entrevistadas relataram medo em relação aos cuidados institucionais, como lares e centros de dia, devido ao risco de apagamento da sua identidade e experiências de discriminação. As redes de apoio são frequentemente frágeis ou inexistentes, devido à ausência de laços familiares tradicionais e à invisibilidade das suas vivências.

Estudos apontam para a exposição continuada ao stress social e ao estigma destas pessoas, bem como sentimentos de solidão. Também é apontada a presença de uma cultura dominante onde impera o culto da juventude e que não oferece modelos positivos de envelhecimento. Como resultado, muitas pessoas LGBTQ+ mais velhas sentem pressão para desaparecerem dos espaços de socialização e para reprimirem a sua sexualidade.

O meu progressivo isolamento, a minha solidão que é uma solidão muito, muito acentuada, levou a que eu não tenha uma verdadeira rede.”
– Salvador, homem cisgénero, gay, 60-65 anos

Recomendações do guia “Envelhecer LGBTQ+ em Portugal” para profissionais de saúde

O guia sugere várias estratégias para promover um atendimento mais inclusivo e acolhedor, tais como:

  1. Desconstrução de mitos: Reconhecer que as pessoas mais velhas também têm sexualidade e podem ser LGBTQ+, evitando pressupostos sobre a sua orientação sexual ou identidade de género.
  2. Comunicação inclusiva: Respeitar o nome e o género da pessoa, utilizando linguagem neutra e visibilizando a diversidade através de materiais informativos e simbologia inclusiva, como a bandeira arco-íris.
  3. Ambientes seguros: Garantir privacidade nos atendimentos e criar espaços físicos que transmitam acolhimento e respeito pela diversidade. A possibilidade de escolher a casa de banho ou a unidade de atendimento onde se sentem mais confortáveis é essencial ao cuidado das pessoas.
  4. Formação especializada: Promover a formação contínua de profissionais sobre envelhecimento LGBTQ+, incluindo sessões de sensibilização, partilha de histórias de vida e utilização de recursos científicos.
  5. Eventos e diálogo: Organizar atividades como tertúlias, exposições e projeções de filmes que visibilizem histórias LGBTQ+, estimulando a integração e reduzindo o isolamento social.

O guia Envelhecer como LGBTQ+ em Portugal é um passo importante para combater a invisibilidade e promover o bem-estar da população LGBTQ+ idosa. Ao investir em práticas inclusivas, profissionais de saúde e pessoas cuidadoras têm a oportunidade de garantir cuidados mais justos e humanizados, respeitando a diversidade de experiências ao longo da vida.

Matéria aqui ESQREVER

Pieri, M., Pires Marques, T., Santos, A. C., & Santos, A. L. (2024). Envelhecer como LGBTQ+ em Portugal. Guia para profissionais de saúde e cuidadores/as. Coimbra: Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.