Evento para ocupar a Praia da Galheta reacende polêmica sobre o naturismo

Um evento convocado pela Prefeitura de Florianópolis para o próximo sábado (22) , chamado “Trilha Segura” promete “ocupar a Praia da Galheta”, nas palavras da vice-prefeita e secretária de Segurança e Ordem Pública, Maryanne Mattos. No entanto, a intenção – subentendida à medida que o convite feito em vídeo avança – é atacar a prática do naturismo no local, segundo frequentadores.

De acordo com o convite, é uma iniciativa que convoca famílias a ocupar a Praia da Galheta, com apoio da segurança pública ao longo do percurso da trilha, com o objetivo de afastar praticantes do naturismo da região.

“Muitas pessoas evitam essa praia por considerá-la perigosa devido a algumas ocorrências. Queremos mudar essa percepção e devolvê-la à sociedade”, explica Maryanne Mattos, secretária municipal de segurança.

Em um debate entre a vice-prefeita e Anselmo Machado, advogado da associação de naturistas Amigos da Galheta (AGAL), que ocorreu nesta quarta-feira (19), na CBN Floripa, o naturista questionou a ausência do poder público ao longo de 29 anos (entre 1997 e 2016), quando a prática era legal.

“Os problemas que têm hoje sempre existiram, a AGAL todos os anos pedia para a Polícia Militar, a Prefeitura e FLORAM, fiscalização, limpeza e segurança para os frequentadores”, afirma o advogado.

Ele também alertou que independente das medidas tomadas, os naturistas continuarão ficando nus na praia, e que deveria ser construída, conjuntamente, uma legislação para garantir segurança, proibindo a prática libidinosa.

“Nós estamos no mesmo barco, não somos contra a fiscalização, pelo contrário, pedimos a anos e isso está documentado. Então esse gesto de agora, devia ter sido feito lá atrás e teria evitado inúmeros casos de violência que acontecem por descaso do poder público”, desabafou Anselmo.

 

View this post on Instagram

 

A post shared by Maryanne Mattos (@mattosmaryanne)

Iniciativa que chama famílias para “ocupar a Praia da Galheta” reacende debate sobre naturismo

A secretária que convocou as famílias para “ocupar a Praia da Galheta” afirma que a prática do nudismo está proibida na Galheta desde 2016 e que os praticantes estariam cometendo um crime. No entanto, essa interpretação é contestada por especialistas jurídicos e defensores do naturismo.

O promotor Jádel da Silva Jr explica que a praia é reconhecida internacionalmente como um espaço destinado ao naturismo em Florianópolis. Embora a Lei nº 10.100/2016 tenha revogado a legislação anterior que oficializava o naturismo na Galheta, o promotor esclarece que não há um artigo explícito que proíba a prática.

“Não há nada dizendo que haja proibição e, se não há lei proibindo, é uma prática aceita”, afirmou Jadel da Silva Jr, durante uma audiência pública que debateu o naturismo na Praia da Galheta, no ano passado.

Disputa na Galheta: Ação municipal reacende debate sobre naturismo em Florianópolis - Imagem: Reprodução/ Floripa.LGBT
Disputa na Galheta: Ação municipal para “ocupar a Praia da Galheta” reacende debate sobre naturismo em Florianópolis – Imagem: Reprodução/ Floripa.LGBT

Histórico e resistência ao fim do naturismo

A iniciativa da vice-prefeita e secretária com o objetivo de levar famílias para “ocupar a Praia da Galheta” acaba sendo o fato mais recente de uma discussão que tem mais de 60 anos de história.

Desde a década de 1960, a Praia da Galheta consolidou-se como um dos principais destinos naturistas do Brasil. Em 1997, a Lei CMF Nº 195/97 oficializou a prática no local, tornando a Galheta um símbolo de liberdade e respeito à diversidade. No entanto, em 2016, a revogação dessa lei gerou incertezas e conflitos sobre a legalidade do naturismo na praia.

Desde então, diversas manifestações foram realizadas exigindo a regulamentação da Galheta, e movimentos como o Salve a Galheta e a Associação Amigos da Galheta (AGAL) atuam na defesa do naturismo e da preservação ambiental do local.

Entretanto, frequentadores relatam que a praia tem sido alvo de episódios de LGBTfobia, violência e assédio, ressaltando a necessidade de medidas que garantam a segurança dos usuários.

Em resposta, os vereadores Carla Ayres e Dinho apresentaram o projeto de lei 19.423/2024, que busca restaurar o direito ao naturismo na Galheta e estabelecer regras claras para garantir a segurança dos frequentadores.

A proposta também prevê reforço na fiscalização e implementação de medidas contra abusos, assegurando que a praia continue sendo um espaço democrático e respeitoso.

* Sob supervisão de Danilo Duarte

Adicionar aos favoritos o Link permanente.