Games como refúgio: o papel dos jogos na inclusão e no apoio a jogadores LGBTQIA+

Jogadores LGBTQIA+ têm 24% mais chances de utilizar jogos como suporte para superar momentos difíceis

O universo dos games vai muito além do entretenimento. Para milhões de jogadores, as comunidades formadas nos jogos online se tornam espaços de acolhimento, pertencimento e troca de experiências. Em um ambiente que conecta pessoas de diferentes origens, culturas e realidades, os games estão se consolidando como redes de suporte e representatividade para diversos públicos.

Dados da GLAAD indicam que jogadores LGBTQIA+ têm 24% mais chances de utilizar jogos como suporte para superar momentos difíceis. Além disso, 66% desse público afirma que os games proporcionam uma forma de expressão pessoal que não se sentem confortáveis em manifestar no mundo real.

“Os games não são apenas uma forma de escapismo, mas também funcionam como ferramentas de empoderamento e conexão social. A representatividade nos jogos tem avançado nos últimos anos, com desenvolvedoras investindo na criação de personagens e narrativas mais diversas”, afirma o especialista em gamificação e influenciador digital, Renato Herrmann.

No último ano, por exemplo, a Xbox, em parceria com a Microsoft, destinou cerca de 200 mil dólares a diversas organizações que apoiam a comunidade LGBTQIA+. O objetivo foi incentivar diálogos, mobilizar ações comunitárias e encorajar as pessoas a compartilharem seu orgulho. No entanto, algumas redes sociais têm ido na contramão dessas iniciativas.

Enquanto plataformas do grupo Meta estão alterando seus termos de segurança e removendo a visibilidade de conteúdos LGBTQIA+, o que contribui para a disseminação do discurso de ódio online, outras redes, como YouTube, TikTok e Twitch, desempenham um papel fundamental na manutenção e fortalecimento dessas comunidades dentro do universo gamer.

Espaços como servidores no Discord, grupos e fóruns possibilitam que jogadores encontrem pessoas com interesses similares, compartilhem vivências e recebam apoio em momentos difíceis.

Segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB) de 2024, 73,9% da população brasileira afirma jogar algum tipo de jogo digital, um aumento de 3,8 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Esses dados reforçam que, além do crescimento da comunidade gamer, os jogos são um meio para estabelecer conexões genuínas.

“Plataformas como Discord e Twitch permitem que jogadores encontrem apoio, compartilhem experiências e criem laços com pessoas que enfrentam desafios semelhantes. Essa rede de suporte virtual, muitas vezes, gera impactos positivos na saúde mental, ajudando a reduzir a solidão e promovendo um ambiente de pertencimento”, comenta Renato.

No jogo da vida real, cada batalha é conquistada passo a passo

O ambiente online dos games há tempos se mostra hostil para as minorias. Entre 2014 e 2015, surgiu o movimento GamerGate, uma campanha misógina de assédio online organizada por uma parcela de entusiastas de jogos, majoritariamente homens, como reação contra o feminismo, a diversidade e o progressismo na cultura dos videogames. O movimento foi amplificado por meio da hashtag #Gamergate.

Diante desse cenário, empresas do setor vêm adotando medidas mais rigorosas para garantir espaços mais seguros e inclusivos, como a implementação de filtros contra discurso de ódio, moderação ativa e campanhas de conscientização sobre diversidade e respeito.

“Movimentos como #SafeSpaceGaming e iniciativas para reduzir a toxicidade nas partidas são exemplos de esforços para garantir que os games sejam ambientes seguros para todas as pessoas. Além disso, desenvolvedoras estão investindo em inteligência artificial para identificar e punir comportamentos inadequados em tempo real. Esse processo é contínuo, mas essencial para garantir que jogadores de todas as origens se sintam bem-vindos e respeitados”, explica Herrmann.

A representatividade nos jogos e seu impacto

A presença de personagens diversos nos games tem um papel essencial na experiência dos jogadores. Quando desenvolvedores incluem protagonistas de diferentes etnias, gêneros, orientações sexuais e condições físicas, ajudam a ampliar a percepção da diversidade no mundo real. Para muitos jogadores, ver personagens que refletem sua própria identidade fortalece a autoestima e o senso de pertencimento.

Títulos como The Last of Us Part II, Celeste e Horizon Forbidden West trazem protagonistas que rompem estereótipos, evidenciando que a diversidade no universo gamer não é apenas necessária, mas também bem recebida pelo público. Além disso, grandes empresas têm investido na personalização de avatares, permitindo que jogadores criem personagens que melhor representem sua identidade.

Para Renato, a representatividade nos games vai além da criação de personagens diversos; trata-se de construir um ambiente onde os jogadores possam ser eles mesmos, sem medo de represálias. “O impacto positivo disso transcende os jogos: influencia a autoestima, o senso de pertencimento e até mesmo as oportunidades dentro da indústria”, afirma.

Os influenciadores digitais desempenham um papel fundamental na ampliação da diversidade nos games. Criadores de conteúdo no YouTube, TikTok e Twitch utilizam suas vozes para dar visibilidade a jogadores de comunidades marginalizadas e incentivar conversas sobre inclusão no universo gamer.

Streamers e influenciadores LGBTQIA+, negros e pessoas com deficiência encontram nessas plataformas uma forma de compartilhar suas experiências e se conectar com um público que busca espaços mais inclusivos. Entre os influenciadores mais conhecidos, destaca-se Samira Close, uma das drag queens mais populares do universo gamer, que leva humor e representatividade para suas transmissões, além de Eevoh e Alpharad.

Empresas do segmento também têm promovido campanhas para destacar a diversidade, criando torneios e eventos voltados para públicos historicamente sub-representados.

Construindo um futuro mais inclusivo no mundo dos games

O avanço da diversidade e inclusão no universo gamer mostra que o setor está em constante evolução. Com o engajamento da comunidade, a atuação de criadores de conteúdo e o compromisso das desenvolvedoras, os games podem continuar se tornando espaços cada vez mais acolhedores e representativos.

Seja nas narrativas dos jogos, nas interações online ou no impacto da representatividade na vida dos jogadores, a inclusão no universo gamer não é apenas uma tendência, mas um caminho essencial.

“Ainda há um longo percurso pela frente, mas cada passo rumo à inclusão faz diferença. No jogo da vida real, a batalha por um espaço mais seguro e respeitoso dentro dos games continua – e é um desafio que vale a pena enfrentar”, finaliza Renato.

Renato Herrmann
Renato Herrmann é especialista em gamificação, criador de conteúdo com mais de 45.000 seguidores nas redes sociais. Conhecido como RealShinyStone no TikTok, Instagram, Twitch e YouTube, Renato é jogador de Pokémon e em suas redes utiliza uma abordagem inclusiva e diversa, usando sua voz para ampliar o espaço de pessoas LGBTQIAPN+ no universo dos games, na criação de conteúdo e no mercado de trabalho. Seu trabalho une entretenimento e representatividade, promovendo um ambiente mais acolhedor e acessível para toda a comunidade gamer.

Temma Agência

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